Vitor Pedroso de Camargo.
1955 - 2012.
Na última madrugada,
uma forte emoção.
Antes braços e mãos fortes...
metamorfose.
Num corpo frágil,
numa cama de hospital,
desligou-se da alma.
Ele que sempre sonhou
com um céu azul bem suave...
Vitor Camargo
era um sol radiante.
Pra mim, foi muito importante.
As pernas do poeta
cambaleantes,
já estavam pràticamente,
aposentadas.
Coração boníssimo,
chorava e sorria francamente.
E por causa do alcoolismo,
o ponto mais alto do chão,
já fazia muito tempo,
tinha deixado filhos e netos.
Testemunhei seus dramas.
Trocávamos muitas cartas.
Ele tinha sempre um livro
ou um jornal nas mãos,
um guardanapo e uma caneta
completamente bêbada
como companhias constantes,
na mesa do bar.
Dormia repentinamente mas,
acordava devagar,
afagava meus cabelos
e bocejava
já mentalizando a cachaça.
Eu entendia
(mas não compreendia),
que ele tinha urgência
em libertar-se.
Seu pseudônimo
era Peregrino.
Rescentemente,
já muito amarrotado,
velava
seus próprios murmúrios,
completamente esquecido
de qualquer ideal.
Sobrevivia pensativo,
de cabeça baixa,
escravo de um olhar vago
e profundo.
Já tinha se acostumado,
nada mais lhe interessava.
Sabia-se perdido,
acuado.
Ficou em uma cama
de hospital,
seu último berço,
em imenso silêncio.
Escolheu sua maneira
de romper a barreira,
sem aversão ao abatimento,
como se nada
tivesse deixado pra trás.
Cecilia Fidelli. |