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terça-feira, 28 de junho de 2011

De beijo em beijo - Por: Leila Miccolis

De beijo em beijo.

Muitas vezes já vi, em leilões de quermesses ou feiras benificentes, "venda de beijos" dados, ou melhor, doados, por alguma artista famosa, alguma mulher bonita, ou elegantes damas da sociedade, em prol de campanhas consideradas socialmente nobres. Pois aqui, em nossa casa de Maricá, em vez de vendermos, colhemos beijos, múltiplos e sortidos.


São beijos comuns, mas muitos queridos. Eles adornam o canteiro ao pé do chorão, que parece gostar muito das suas companhias: quando o vento sopra, o chorão, alegre, parece dar beijo nos beijos, com suas folhas amorosas e leves. Pode ser impressão minha, mas sempre depois dessas cenas de amor em público, noto que algumas flores ficam bastante coradas...


O nome científico do Beijo é mirabilis jalapa ou mirabilis dichotoma; já nomes populares tem quinze, conforme Harri Loreni, autor do livro Plantas Medicinais no Brasil - Nativas e Exóticas: batata-de-purga, pó-de-arroz, beijos-de-frade, boa-morte, flor-das-quatro-horas, maravilha e bonina, entre outras. De todos eles, a meu ver, Beijo é o mais poético e colorido. Já pensou você perguntar a alguém: “qual a cor do seu beijo?” Ou então afirmar: nosso beijo deu sementes... Bonito, não?


Semana passada, porém, notei que nossos beijos estavam morrendo. Desolada, pensei: como é constrangedor um canteiro de beijos tristes, acanhados, desgastados, beijos que nem molhados (pela chuva) parcem florescer mais. Cheguei perto para conversar com eles (não dizem que as plantas entendem a fala das pessoas?) e lhes fazer um carinho, mas não cheguei a tocá-los. É que nestes beijos, em vez de sapinhos, havia uma perereca. Pulou incomodada, e eu recuei. Ainda assustada, não refeita do susto, perguntei-lhe: — Isto lá é lugar pra você se esconder? Ela deu outro salto e tentou abocanhar um animal voador não identificado, que pousara nas folhas do beijo murcho. Então, de repente, entendi seu tipo resposta para mim: além da sua própria sobrevivência, pulando ela esbarrava nas bagas, que se abriam, espalhando sementes — beijos a granel — por todos os lados.

Universo sábio este, mesmo quando as leis do seu ecossistema nos parecem estranhas. Antecipando-se à natureza (“que, ao contrário da perereca, não dá saltos”) o irrequieto animalzinho verde acelera o processo de germinação, contribui para nossos beijinhos possam renascer antes do “tempo regulamentar”, novinhos em folha, atraindo em breve, para suas pétalas beijoqueiras, muitas borboletas esvoaçantes. Mas, amiguinhas lepidópteras, lembrem-se de que também, à espreita, há várias espécies de batráquios e répteis – rãs, sapos, pererecas, lagartos e companhia ilimitada –, que seguem à risca o provérbio português segundo o qual “a alegria vem das tripas”...

Leila Míccolis

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