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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Antonio Mendes da Silva Júnior.

Totó Mendes - Prefeito de Itanhaém - Litoral Sul de S.Paulo - De 1915 a 1924.

José Rosendo

Fala-se muito em resgatar a memória de Itanhaém, diluída ao longo de anos e anos de obscurantismo, onde a cultura foi relegada a um plano secundário e os valores genuínos da terra foram, literalmente, descaracterizados. A ausência de documentos e informações mais precisas sobre importantes figuras que marcaram a vida cultural da cidade, dificulta o trabalho daqueles que com perseverança, tentam buscar no passado subsídios para uma crônica objetiva das tradições itanhaenses.

Desde os primórdios, sob a influência e ensinamentos dos monges franciscanos que habitavam o Convento de Nossa Senhora da Conceição, o povo da Vila Itanhaém, indistintamente, adquiriu todo o conhecimento possível da cultura portuguesa, ministrado pelos mestres religiosos que dirigiam o monastério.

Dentre os itanhaenses que absorveram aqueles ensinamentos e optaram por transmití-los à posteridade, destacam-se as figuras maiúsculas de Izaias Cândido Soares, Benedito Calixto de Jesus, Capitão Antonio Mendes de Silva, João Baptista Leal, Emygdio Emiliano de Souza e João Alves Ferreira. Sob a inspiração do primeiro, a aprovação dos demais e o apoio entusiasmado da nascente comunidade, foi fundado, em 20 de julho de 1888, o Gabinete de Leitura Itanhaense, à sombra do qual, por mais de meio século, o povo da Vila cresceu em sabedoria e cultura.

O Gabinete de Leitura Itanhaense consitutiu-se, ao longo desse tempo, no referencial mais significativo da cultura local.

Herdeiro desses valores desponta, no início desse século, e se destaca em todos os campos do conhecimento, o grande Totó Mendes, Antonio Mendes da Silva Júnior. Foi um itanhaense privilegiado, dotado de uma visão do futuro acima do normal. Autodidata, desenvolveu tal capacidade intelectual que o levou a tornar-se líder de sua comunidade. Desde muito jovem, inspirado nas doutrinas ministradas pelos religiosos que lecionavam no convento e nas virtudes humanísticas herdadas de seus antepassados, revelou-se estudioso de diversificadas disciplinas: música, regência, literatura, jornalismo e astronomia.

Sensível, fecundo e profundamente religioso, foi autor de grande número de música sacra: Hinos, Jaculatórias, Ladainhas, etc. As jaculatórias e demais cânticos na novena em louvor a Nossa Senhora da Conceição e Centenário do Divino Espírito Santo, festejos religosos tradicionais.

Organista inspiradíssimo tocava outros instumentos musicais, de corda e de sopro, com absoluta perfeição. Era exímio professor de música. Foi regente da Banda Musical, de Coral e de um Quarteto de Cordas. Nas festividades cívicas e religiosas, realizadas no convento, na Igreja Matriz de Sant'Anna ou no Gabinete de Leitura, executava obras sacras, eruditas e populares.

Apaixonado por literatura era, como afirmavam aqueles que provaram de sua intimidade, um "devorador de livros". Conhecia os filósofos gregos e romanos, os pensadores antigos e modernos e os grandes escritores e poetas da língua portuguesa.

Com todo esse cabedal, era homem modesto sem arrobos de superioridade. Idealista, tinha ânsia de compartilhar com seus conterrâneos os conhecimentos do qual era dotado.

Com esse objetivo resolveu editar um jornal. Iniciativa temerária e arrojada pois, na época, a Vila não dispunha de estrutura financeira para empreendimento de tal envergadura. Mesmo reconhecendo as dificuldades, não esmoreceu. Contando com a colaboração de amigos e admiradores que possuia em Santos e São Vicente, adquiriu um prelo manual e demais componentes, a partir do que foi possível concretizar um sonho há muito acalentado: levar ao povo da Vila Conceição informações, conhecimentos e entretenimentos!

No dia 2 de fevereiro de 1915 vinha à público o primeiro número do "Correio do Litoral", que constituiu-se no marco do jornalismo em Itanhaém. No início circulava duas vezes por semana. Após algum tempo tornou-se semanário, tendo sido editado até o ano de 1922.

A linha editorial da qual jamais se afastou, era didática, priorizando sempre o incentivo ao prazer da leitura. Para tanto, convidou as figuras mais expressivas da Vila para ajudarem na redação do jornal. Passaram a colaborar, com notícias, artigos, crônicas, contos e poesias, alguns itanhaenses que já cultivavam o hábito de escrever, mas não dispunham de meios de divulgação.

Graças ao "Correio do Litoral", vieram à público os deliciosos "Contos da Roça", de Emídio de Souza, os artigos e crônicas de Benedito Calixto, João Alves Ferreira, Antonio Augusto Bastos e Humberto de Souza Leal, assim como os poemas de Antonio Pedro de Jesus (irmão de Calixto), Silveira da Motta e outros.

Colaboraram também figuras expressivas das letras e do jornalismo de Santos, São Vicente e da Capital.

Sob os pseudônimos de "Menju", "João da Praia" e "Parapeguava", Totó Mendes publicou editoriais, contos, poesias e páginas de humorismo muito bem elaboradas. Incentivava os leitores a colaborarem com crônicas e poesias, que por ele eram corrigidas e editadas.

Essa identificação com o povo, através do jornal, foi fundamental para que sua liderança e competência mais se acentuassem.

O sitema de governo municipal, na época, era parlamentarista, isto é: o povo elegia 7 vereadores e estes, através do voto, escolhiam o Prefeito, que tanto poderia ser um deles como alguém alheio a Câmara.

Com 24 anos de idade, em 1914, Antonio Mendes da Silva Júnior foi eleito vereador e escolhido Prefeito, cargo que exerceu com diginidade e competência, por sucessivas reeleições, até o ano de 1924 quando, inconformado por não poder dar continuidade ao seu arrojado plano adminsitrativo, face às incompreensões e divergências políticas, renunciou à vereança e ao cargo de Prefeito, abandonando de vez a vida pública.

Mas continuou contando com o respeito e a admiração de seus conterrâneos, nas atividades culturais, jornalísticas e no exercício do cargo de Escrivão do Cartório de Registro Civil.

Deve-se destacar, como resultado de sua progessista administração, a implantação, em 01/09/1918, do primeiro complexo gerador de energia elétrica. Prevendo o futuro de Itanhaém como Estância Balneária, deixou traçadas duas avenidas, com 40 metros de largura cada uma, ligando Itanhaém e Mongaguá. A Condessa de Vimieiros e a Rui Barbosa. Lamentavelmente as administrações que se sucederam desprezaram o arrojado projeto, seccionando essas duas vertentes.

Antonio Mendes da Silva Júnior foi um homem que honrou e dignificou Itanhaém. Modesto, desambicioso, pautou sua vida por parâmetros onde se destacaram o caráter, a honradez e o respeito que sempre devotou a famiília, a Itanhaém e a Pátria!

Fonte: - Reporter do Litoral de 15/04/1998.



Um comentário:

  1. Totó Mendes, foi escritor jornalista
    e Prefeito de Itanhaém. A Segunda Cidade
    do Brasil - Fica no Litoral Sul de São Paulo.

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